O frio vem leve, mas corta profundo
um sussurro gelado que abraça os ossos...
Na serra, o tempo não corre
ele dança, em passos lentos, entre as brumas.
A neblina se deita sobre a terra
como um véu de noiva...
e o dia desperta em silêncio,
com olhos de céu nublado.
Ali, nada é de graça...
nem o café, nem a conversa.
Antes, é preciso rachar lenha...
dar ao fogo a oferenda do esforço
como quem pede permissão ao calor.
E só então...
a chaleira canta sua canção tímida,
o aroma invade a alma
com promessas de aconchego.
O café, servido com mãos firmes e ternura,
é mais que bebida...
é poesia quente em boca fria,
é amor rústico...
em xícara de esmalte gasto.
Na serra, é assim...
acender o fogo primeiro...
para só depois, aquecer o coração.
Esta poesia nasceu nos dias em que fui recebido com carinho
por um casal de amigos em sua casa na serra
um gesto simples, mas cheio de calor.